Educar para a vida

06/03/2015 11:00

Por: Jerônimo de Almeida Neto*

 

Diante do quadro de desemprego, gerado, em parte, pelo desenvolvimento tecnológico, objetivado pelo processo de reestruturação produtiva, pelas novas formas de gerenciamento da produção e da circulação de mercadorias e serviços, nos vemos diante do dilema, para que estamos educando nossos alunos?

 

Se antes, educávamos para o mundo do trabalho, para o saber fazer, hoje, precisamos educar para a vida, para a busca de alternativas ocupacionais que supram as necessidades oriundas do baixo número de empregos gerados e da incapacidade das políticas públicas de atender a estas demandas.

 

O analfabeto hoje não consegue realizar tarefas simples como ir ao supermercado, fazer uma compra qualquer, pagar o preço correto pela mercadoria e retornar para sua casa. Tem problemas logo ao sair, para identificar o ônibus que deve utilizar, precisa de ajuda para compreender o sistema de codificação de preços das mercadorias, para entender as promoções e propagandas, perde-se em meio às inúmeras informações dentro de um supermercado.

 

No trabalho, é indispensável o exercício da leitura e da escrita, desde o faxineiro até o diretor da empresa, todos lêm o dia todo. São informações sobre produtos e máquinas, dados técnicos, planilhas econômicas, um sem fim de informações, que servem para garantir a execução das tarefas, a qualidade do produto ou a segurança dos trabalhadores e a preservação do meio ambiente.

 

Em meu trabalho tenho me deparado com trabalhadores/as que enfrentam grandes dificuldades nos processos de seleção, porque foram mal formados. Alguns sequer conseguem compreender o que leem, outros se retiram da seleção porque não conseguem elaborar uma pequena redação, apesar de terem o Ensino Médio concluído.

 

Isto posto, é preciso que comecemos a educar nossos jovens para que sejam capazes de ler o mundo e entendê-lo, para que possam inserir-se nos movimentos sociais reivindicatórios e lutarem pela melhoria das condições de vida. Precisamos educá-los para que sejam capazes de compreender o jogo político em que estão inseridos, mesmo que inconscientemente, precisamos educá-los para que sejam capazes de compreender a política econômica em curso no país. Precisamos educar todas as pessoas para que desenvolvam a criticidade diante da avalanche de informações que invadem suas casas diariamente, trazidas pela televisão, pelo rádio, pela Internet ou pela mídia impressa.

 

Precisamos educar para a compreensão do funcionamento da sociedade, para o exercício da cidadania, para a cultura, para a emancipação, para a libertação. Precisamos enfim, educar para a vida.

 

 

Jerônimo de Almeida Neto

é sociólogo, pedagogo e presidente da ACESSO*